Cultura
Em meio à recordes de queimadas no país, Fortaleza ganha mural feito de cinzas transformadas em tintas
O Brasil bateu recorde de queimadas no primeiro semestre de 2024, com o maior número de incêndios registrados desde 1988, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) iniciou o monitoramento. Segundo dados da última Coleção MapBiomas Fogo, lançada em 18 de junho, um em cada quatro hectares do Brasil pegou fogo nas últimas quatro décadas. Somente em 2023, a área queimada no país foi equivalente à metade do território da Bélgica. E a situação não é diferente na Caatinga, bioma predominante no Ceará, que no último ano atingiu 3.242 focos de queimadas, número 147% maior do que nos anos anteriores.
Para chamar atenção ao tema e valorizar o importante trabalho dos brigadistas florestais voluntários no combate ao fogo, a cidade de Fortaleza (CE) ganha nesta semana uma empena pintada com tintas feitas de cinzas de queimadas de florestas brasileiras. A obra, que começou no último final de semana (3/8) é da artista Dinha Ribeiro (@dinha.ribeiro_) e segue até quarta-feira (7/8). O prédio escolhido fica na comunidade Castelo Encantado, no conjunto residencial Alto da Paz, no bairro do Cais do Porto, em Fortaleza.
“Para mim é de extrema importância participar do festival e poder retratar essa temática das queimadas que estão acontecendo em todo território brasileiro. Fico muito feliz pelo projeto estar acontecendo em Fortaleza, trazendo cor e conscientização sobre as questões ambientais para a comunidade”, comenta o artista.
Fortaleza é a segunda a receber o Festival Paredes Vivas – Edição Cinzas da Floresta, uma iniciativa cultural e educativa que tem como objetivo incentivar a conscientização socioambiental, tendo a arte urbana como principal ferramenta, a partir da pintura de empenas de prédios em cidades do Brasil. As obras são uma homenagem aos brigadistas florestais, que realizam um trabalho fundamental contra o fogo e pela preservação ambiental.
O Festival Paredes Vivas – Edição Cinzas da Floresta é uma realização da Parede Viva, com apoio da Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV) e Mina Cultura. O patrocínio é da Yelum Seguradora, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura.
Oficinas
Além da empena, em todas as cidades são realizadas também oficinas com atividades de arte e educação, direcionadas a alunos de escolas públicas do entorno das empenas com a articulação de artistas locais para a realização de murais colaborativos. A ação acontece em três etapas: exibição do filme “Cinzas da Floresta” (veja mais abaixo), seguida de debate e de uma oficina de pintura com as cinzas no mural da escola. Por fim, os alunos fazem uma visita à empena.
Em Fortaleza, a atividade começa na sexta-feira (9/8), na EEMTI Matias Beck (Rua Professor Aída Balaio, 38 – Vicente Pinzon, Fortaleza), com Gabriel Pig (@pig_p.crew), oficineiro que guiará as aulas para as crianças. No sábado (10/8), a partir das 9h, os alunos visitam a empena e depois voltam para a escola e participam da pintura de um mural com o artista Berin (@berin.art).
Das cinzas à tinta
Durante os meses de maio a julho de 2024 foram coletadas cinzas de queimadas de todo o Brasil para transformar em pigmento. Para isso, foi realizada uma articulação com brigadas florestais, com apoio da Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV). Recebidas pela equipe do projeto, as cinzas foram pesadas, peneiradas e enviadas para os artistas de cada cidade. Mistura com resina acrílica, ela funciona como uma aquarela. As variações das cores das cinzas de cada bioma e em decorrência do tipo de matéria queimada permitem aos artistas desenvolver diferentes tons de cinzas.
Parte do processo de fabricação das tintas utilizadas no festival foi registrado no documentário “Cinzas da Floresta”. Dirigido por André D’Elia, o filme acompanha uma viagem de Mundano, em 2021, por um Brasil em chamas para coletar as cinzas e produzir a tinta que foi usada em uma nova obra, “O Brigadista da Floresta”, em São Paulo, que deu origem ao projeto. Assista ao trailer.
“O Brasil está em chamas e as brigadas florestais voluntárias são essenciais no combate a esses incêndios, principalmente no contexto de mudanças climáticas e descontrole de queimadas, muitas delas causadas de forma criminosa”, afirma o grafiteiro Mundano, fundador da Parede Viva e um dos idealizadores do projeto Cinzas da Floresta.
“O Mundano sempre usou a arte como ativismo, ou artivismo, como o mesmo chama. Em um dos grandes incêndios que aconteceram em 2020 na região do Pantanal, notou que uma forma de colaborar com a causa seria dar visibilidade ao tema por meio da arte. Assim nasce o projeto, com o intuito de denunciar esses índices alarmantes que, apesar da urgência, acabam sendo mais um número, com os dados virando paisagem. Agora, essas empenas é que passam a fazer parte da paisagem das cidades, sendo vistas por uma quantidade incontável de pessoas que circulam pelas ruas”, completa Roberta Youssef, coordenadora do Festival.
“Esse projeto nos permite uma troca cultural incrível. Estamos tendo contato com artistas de diferentes lugares do país e, apesar das diferenças, o resultado é sempre o mesmo: a arte transforma vidas e espaços”, observa Bea Mansano, produtora executiva do Festival.
“Para nós, do Grupo HDI, é muito importante poder apoiar o Festival Paredes Vivas, pois ele
provoca uma reflexão sobre a poluição e as queimadas que vêm assolando os ecossistemas brasileiros, além do desequilíbrio que esses desmatamentos causam no meio”, comenta o VP de Transformação do Grupo HDI, André Truzzi. “Esse foco do projeto em conscientizar a sociedade sobre o tema está diretamente alinhado ao compromisso global que o Grupo HDI tem de amenizar seu impacto no meio ambiente e diminuir sua pegada de carbono”, completa o executivo.
Artivismo
A primeira edição do Festival Paredes Vivas, realizada em 2021, aconteceu em cidades do estado de São Paulo: Piracicaba, com os artistas Sarah Soares e Diógenes Moura; Jundiaí, Bianca Foratori; Cotia, com Tamikuã Txihi, e São Paulo, com Adriano Vespa.
Já o projeto Cinzas da Floresta, além do mural de Mundano, conta hoje com mais de 200 obras criadas por 152 artistas 11 estados brasileiros, com o excedente da tinta da primeira viagem, e que deu origem à uma exposição em 2022. As obras são vendidas e o valor arrecadado doado à RNBV.
Saiba mais em https://paredeviva.art.br.
Veja as obras da exposição em: https://www.instagram.com/cinzasdafloresta/
*Fonte e imagem de capa: Internet